O Sindicato dos Hospitais, Clínicas, Casas de Saúde e Estabelecimentos de Serviço de Saúde da Região Norte Fluminense (SINDHNORTE) realizou, na esta semana, uma reunião extraordinária na Fundação Benedito Pereira Nunes para discutir os impactos causados pelos atrasos nos repasses financeiros da Secretaria Municipal de Saúde de Campos dos Goytacazes. A dívida acumulada com os hospitais contratualizados, segundo o sindicato, já se aproxima de R$ 100 milhões, comprometendo seriamente a manutenção dos serviços prestados à população. Outra preocupação é a possibilidade do fechamento do CRDI, primeiro Centro de Referência da Dengue no País, que funciona anexo ao Hospital dos Plantadores de Cana.
A reunião foi motivada por recentes declarações do Sindicato dos Médicos de Campos, que teria atribuído aos hospitais a responsabilidade pela falha na transferência dos recursos do SUS para os profissionais de saúde. O SINDHNORTE contestou a acusação e afirmou que as unidades hospitalares têm arcado, de forma involuntária, com os custos do sistema público sem o devido repasse por parte do município.
Segundo o sindicato, os hospitais filantrópicos, responsáveis por cerca de 80% dos atendimentos realizados pelo SUS em Campos, estão à beira de um colapso. A falta de recursos já compromete serviços essenciais como ortopedia, cardiologia, pediatria e o combate à dengue. A crise também ameaça o funcionamento dos campos de estágio e atividades de ensino em cursos técnicos, internato e residência médica.
Outro ponto de preocupação levantado na reunião foi o congelamento da tabela de aporte municipal desde 2017. Enquanto os valores pagos pelo SUS permanecem defasados, os custos operacionais das instituições seguem em alta, impulsionados inclusive pela pandemia da COVID-19, que elevou o preço dos insumos hospitalares.
O SINDHNORTE alerta que a continuidade do atual cenário pode causar sérios prejuízos não só à assistência médica da população, como também à economia da cidade. Os hospitais da região empregam cerca de 3 mil trabalhadores, além de aproximadamente 800 médicos, e representam um dos principais polos de geração de emprego em Campos.
O sindicato cobra uma solução urgente da Prefeitura e reforça a necessidade de diálogo efetivo entre o poder público e os gestores hospitalares para evitar o colapso do sistema.
O encontro contou com a presença do presidente em exercício do SINDHNORTE, Dr. Márcio Sidney Pessanha, do presidente eleito Edgard Andrade Corrêa e de representantes das principais instituições hospitalares da cidade, como os doutores Geraldo Venâncio (Hospital Escola Álvaro Alvim), Renato Faria e Jorge Miranda (Beneficência Portuguesa), Benedicto Pohl e Almir Quitete (Hospital Plantadores de Cana), além de Carlos Machado e Dr. Demétrio Waked, provedor e diretor clínico da Santa Casa de Misericórdia de Campos, respectivamente.
CRDI deve fechar as portas em meio à crise financeira da Saúde
Criado há 23 anos como o primeiro Centro de Referência da Dengue do país, o Centro de Doenças Imuno-Infecciosas (CRDI) enfrenta um dos momentos mais críticos de sua história. Com salários de colaboradores atrasados e sem garantia de repasses, a unidade foi notificada pela Prefeitura de Campos que será desativada em 30 dias.
Ao longo de mais de duas décadas, o CRDI atendeu mais de 400 mil pessoas, sendo responsável por mais de 50 mil diagnósticos confirmados de Dengue e mais de sete mil internações. Tornou-se referência nacional em vigilância epidemiológica, diagnóstico rápido e tratamento de arboviroses como Dengue, Chikungunya, Zika e, mais recentemente, Febre Maculosa — sem registros de óbitos desde que assumiu essa nova função.
Além da assistência direta, o centro é também um núcleo de produção científica, com mais de 150 estudos publicados em parceria com instituições como a Fiocruz.
O possível fechamento da unidade representa uma perda significativa para a saúde pública e para a pesquisa nacional, afetando diretamente o controle de surtos e epidemias, além da formação acadêmica de profissionais da área.
Questionada, a Prefeitura de Campos não respondeu sobre os
atrasos e nem sobre a previsão para os próximos repasses. Sobre o fechamento do CRDI, a Prefeitura
respondeu apenas que a Secretaria Municipal de Saúde está seguindo o modelo do
SUS de descentralização e regionalização do atendimento, está realizando
alterações no fluxo de atendimentos da rede com objetivo de aproximar a Saúde
de seus usuários. “A pasta informa que os atendimentos que seriam realizados no
Centro de Referência da Dengue (CRD) serão distribuídos pela rede de
atendimento primária e de urgência, através das Unidades Pré-Hospitalares
(UPHs) de acordo com suas necessidades, possibilitando que o usuário tenha o
atendimento em sua rede de atenção primária.”, disse a nota.
Fonte: Manchete-RJ
PUBLICIDADE