Uma superbactéria mutante pode ser o fim da era dos
antibióticos e criar as primeiras infecções impossíveis de tratar.
Ela já foi encontrada pelo menos uma vez em cada continente
- em porcos, em amostras de comida da China, e, agora, na infecção urinária de
uma americana.
O Departamento de Defesa dos EUA encontrou uma bactéria
resistente à colistina, um dos antibióticos usados como "último
recurso" em infecções que resistem a outros remédios.
A bactéria deve seu superpoder ao gene mcr-1 e resiste a um
grande número de outros antibióticos - ela tem um total de 16 genes que
dificultam o funcionamento de remédios.
Mas não é a primeira vez que o mcr-1 é encontrado - o estudo
americano se baseia, inclusive, em uma pesquisa da USP, que identificou a
presença do gene no gado do Brasil, se espalhando silenciosamente desde 2012.
A indústria de alimentos é, possivelmente, a origem da
resistência da bactéria. Tanto na China quanto no Brasil, ela é amplamente
usada no gado para combater infecções por salmonela e E. coli - mas também para acelerar o crescimento dos
animais.
E os cientistas acreditam que através da carne a bactéria
passou a infectar humanos.
A preocupante novidade é que esse gene circula entre
bactérias com uma facilidade enorme.
O mcr-1 fica hospedado em um pedaço de DNA conhecido como
plasmídeo.
Quando duas bactérias encostam uma na outra, os plasmídeos
se descolam e podem ser absorvidos pelo outro microrganismo. Assim, a
resistência passa de um para outro e se espalha rapidamente.
O grande perigo é que essa bactéria se misture e transmita o
gene para germes já resistentes a outros antibióticos.
Existe um grupo de bactérias conhecido como "o bicho do
pesadelo" - as enterobactérias resistentes a carbapenema - entre elas,
algumas mutações da E. Coli, que vive no intestino mas pode causar diversas
doenças em pessoas com imunidade baixa.
Elas produzem uma enzima que inutiliza uma classe ampla de
antibióticos, como a penicilina.
Em muitos casos, só a colistina consegue eliminar esses
bichos - e basta um encontro com um germe com gene mcr-1 para ganhar
resistência.
Segundo os autores do relatório americano, existe o risco
dessa mistura criar uma bactéria pan-resistente - em outras palavras, incurável
por antibióticos.
E o mais assustador: isso pode já estar acontecendo, em um
encontro casual de duas E. Coli dentro do intestino de alguém, muito antes dos
cientistas conseguirem isolar o superbicho em laboratório.
Exame
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Saúde