Um casal do interior de São Paulo emocionou o Brasil ao
partir no mesmo dia, após 74 anos de casamento. Aos 92 e 94 anos, Odileta
Pansani de Haro e Paschoal de Haro faleceram com apenas 10 horas de diferença.
A história, que poderia ter saído de um romance, é real e revela o quanto o
amor, o companheirismo e a vida compartilhada seguem tocando os corações mesmo
em tempos tão velozes e individualistas.
Casos assim não acontecem por acaso. São construídos em
silêncio, dia após dia, entre rotinas e gestos carinhosos, como escrever cartas
de amor reciprocamente por décadas. Uma história assim é sustentada por
acordos, renúncias e uma fé firme naquilo que se constrói a dois.
O verdadeiro amor vale a pena
Para o pastor e psicanalista Anderson Aurora, a trajetória
desse casal é a prova viva de que o casamento continua sendo uma das mais belas
expressões da experiência humana. Ele comenta:
“Um casamento tão duradouro nos parece ter sido vivido
repleto de acordos, cumplicidade, parcerias e metas em comum. A Bíblia é clara
quando nos mostra no livro de Amós 3:3: ‘Porventura andarão dois juntos se não
estiverem de acordo?’”
Segundo ele, o exemplo de vida desse casal e a maneira como
partiram juntos reafirma a força dessa instituição divina chamada casamento.
“Certamente valorizaram cada detalhe da vida a dois — cada passeio, almoço ou
jantar — numa verdadeira expressão bíblica do amor que tudo crê, tudo espera e
tudo suporta.”
Anderson reforça que o casamento é mais do que um evento: “É
um projeto de vida. À luz do Evangelho, é algo que exige amor, dedicação,
compromisso e renúncia — e tudo isso vale a pena.” Como psicanalista, ele
observa que a longevidade da união revela não apenas afeto, mas amadurecimento
emocional:
“A união longínqua desse casal que, no início, eram duas
personalidades únicas, nos faz acreditar que, com o tempo, apreciando as
diferenças e fortalecendo os vínculos, decidiram caminhar juntos até que a
morte os separasse não um do outro, mas desta vida, juntos, para que um não
sofresse a ausência do outro.”
Ele conclui com uma reflexão sobre o amor como escolha
consciente: “Creio nas identificações mútuas como condição e resultado
para uma aliança entre homem e mulher, respeitando as condições psíquicas de
cada indivíduo. Mas nada supera a vontade de amar, que nasce do coração e
decide a nossa história a dois. Vale a pena casar. Vale a pena permanecer.”
Em tempos de relações descartáveis, a história desse casal
toca fundo. Não pela idealização de um amor perfeito, mas por mostrar que viver
a dois, com tudo o que isso implica, continua sendo uma escolha possível e
profundamente humana.